Procuro o sentido dos receios, mergulho em mim e sigo o
sentido, sentindo. A falta de harmonia presente no caminho que percorro esta
contada nas viagens ao inconsciente,
medos lógicos perpetuados ao longo de anos e vidas, o desenlace do nó
cego é saboroso e solta a sensibilidade de sentir a brisa que até ali existe.
Vou de viagem em viagem, com um peso que não é transportável na bagagem e volto
de viagem em viagem com o sentimento de simplicidade complexa que assimila o
aqui e o agora. Leio pelos detalhes, pelas entrelinhas dos acontecimentos a
incapacidade de gritar ao mundo aquilo que foi e já não é. Junto com o meu
silêncio troco palavras de ironia que pintam sorrisos transparentes daquilo que
consegui demonstrar ser. Tão pouco necessito de jogos sem fronteiras que
carreguem besteiras aos olhos de quem não precisa sequer de ver. Consigo
compreender a própria compreensão, consigo tolerar a própria tolerância, até
consigo aceitar a aceitação, desde que elas sejam isso mesmo, com coragem de
ser aquilo que são. Não importa o que me digam ou disseram, em contrapartida do
que senti, admiro que se projecte a verdade, desprezo o algoritmo da omissão com
o fundamento da protecção sentimental.
Consigo sorrir para alguém de quem “tem”, “teve” ou “terá”
aquilo que por erro pensei ser só ”meu”.
Chego de viagem e percebo o medo, o medo da solidão que
tenho e que está presente no campo verde onde estivera, campo de horizontes
cheios e medos vazios. O horizonte assusta por a enormidade, de eu querer todo
o futuro e a sua ambição na ponta do presente, até que se entende a estrutura
da construção do agora, sem projecções sem omissões ou promessas que prendam
corações à dormência das emoções voláteis. Mas mais grave que projectar
sensações a alguém, é esse alguém deixar sentir-se projectado por sensações
pouco ecológicas. Utópicas para uns, sentidas para outros, um mapa composto por
crenças fortemente ligadas à dependência de quem gosta profundamente,
certamente se dará mal com um mapa de crenças estreitamente ligadas à paixão
ardente que se apaga com a falta de oxigénio. Pouco importa porque tudo faz
parte, pouco importa o que é feito por quem nos faz, o que importa é o que nós
fazemos, por quem fazemos. O caminho faz-se caminhando, e o momento constrói-se
com o eu a seu tempo, no seu momento, pedacinho por pedacinho sem a pressa de
ver a projecção da situação ideal presente da caracterização interna que
contemplamos. Calma nessa hora, a poesia na magia de ser-mos quem somos ao
tempo que crescemos, projecta os momentos adequados para chegar ao nível de
excelência que idealizamos para nós, sem pressa, apenas com compreensão,
tolerância e aceitação, mais por nós do que pelos outros. Nós não somos o que
nos fazem, tornamo-nos o que nos deixamos sentir pelo que foi feito.
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