Faz mais de um ano que não escrevo, e mais outro que por aqui ando, no jardim à beira mal plantado.
Uma espécie de resumo, de apanhado, do denso, doce e agudo capítulo
que foi este último.
Muitos dias, muitas
sensações, muitos estados, cresci, evoluí, sou mais eu.
Um dia que não é dia, não se sente, não se sorri, a brisa
não toca e o calor não trespassa os corpos. Existem momentos que são prefixos
do tempo, ocasionais mas, suficientemente doces ou agudos para serem marcantes.
Momentos doces, momentos comuns a criança, que escasseiam
com o galopar da linha que evoluí e nos envelhece, momentos doces, em que o
simples é elaborado o suficiente para ser eterno, tão simples que projectam
sofisticação, que preenchem, que nos alucinam.
Momentos agudos, são momentos pouco desejados, fazem-nos
sentir revoltados e muitas vezes esterilizados, reticentes da própria condição
humana.
Ambos são especiarias que acrescentam à vida terrena o condimento
necessário para que, degustemos a evolução da condição pessoal, da descoberta
do “eu” mais profundo, da alma. Somos seres marcantes, para lá de matéria, somos
pontos de luz, com capacidade de mudar o momento, uma vez, duas vezes, três
vezes, quatro vezes, tantas, que juntas, podem mesmo mudar o mundo. Somos seres
criadores da realidade que nos rodeia e, cada experiência, cada momento, marca
exclusivamente quem somos, cabe-nos a nós optar pela quantidade de excelência
que pretendemos disponibilizar em cada acto.
Olho em redor e é com tristeza que compreendo, compreendo
perfeitamente a sociedade e cada um em particular, que se encontra envolto,
doente, com patologia de “pilo-automático”. Levando-nos muitas vezes a cometer
um salto neurológico sinuoso no processo perceptivo, atalhando o campo do córtex
pré-frontal, directamente para um estado emocional governado pela vontade de saciar
as emoções, sem que as auscultemos.
Somos constantemente bombardeados por azafamas sociais bilaterais, que representam labirintos de quotidianos formais e
informais, repletos de armadilhas que se confundem ou difundem em forma de
gargantilhas, diga-se, gravatas. Pessoas aperaltadas e tão pouco aparentam o
que lhes apoquenta. A falta, o estrangulamento, a ausência de alento, a
dificuldade de colocar na mesa o sustento.
Tal é o frenesim, tal
é o stress acumulado pelas situações macro e micros, inevitavelmente intrínsecas
ao padrão de vida cosmopolita, que nós próprios criámos e que nos castra.
A consciência a ciência, de auscultar aquilo que realmente
somos, para assim, agir em conformidade, está em quarentena. A capacidade e o
discernimento de escutar aquela pequena voz, aquela que, nos sussurra ao ouvido
de mão dada ao peito, aquela que diz quem somos. É difícil, compreendo e vivo
isso, às vezes mais do que desejo. Mas, tento, tento sempre, tento e empenho
sempre mais que ontem e menos que amanhã, colocar em prática aquilo que eu chamo
de, “parar o tempo”. Parar o tempo é um poder nosso, um poder de elevação pessoal,
é mágico, uso-o, ainda não tanto quanto usarei, mas uso e divulgo-o. Para que o
usem, explico-o da melhor forma que sei, pois a sociedade necessita de enormes
dosagens do princípio activo, consciencialização.
Não se vivem dias fáceis, é um
facto, a falta de dinheiro para quem habita no epicentro da sociedade, é uma
lacuna indissociável de uma qualidade de vida aceitável. Não é altruísta
querer-se muito, não é egoísmo, não, é uma necessidade, os padrões que criámos
para acesso a bens básicos é que estão elevados. Fazem sentir-nos frustração,
que é marcada pela dificuldade em alcançar o estereótipo que nos foi cravado a
ferros em criança, e que hoje, ainda tem marcas. Tudo isto dificulta a consciencialização,
é mais a preocupação pela sobrevivência, que propriamente a de dar importância
ao desenvolvimento da excelência pessoal. O País está um local diferente, os
que cá ficam e que têm vontade de lutar, de fazer por si, aqueles que realmente
hipotecam o seu tempo nas horas extras, com a convicção que é assim que o
sucesso se constrói. Esses, à semelhança dos que se vão, encontram toda uma
nova dificuldade a cada dia que passa, com a condicionante de ainda, assistirem
de perto à deterioração do seu País e à volatilidade do seu trajecto. O País
que os viu crescer e que lhes prometeu oportunidades, que os fez acreditar num
conjunto de pressupostos, que se cumpridos, seríamos capazes de atingir uma
qualidade de vida simpática. Hoje, nega-lhes isso mesmo. É necessária uma
mudança, é necessária uma reprogramação para assegurar a manutenção da sanidade
mental. O que era para ser, não é, e o que é, irá certamente deixar de ser.
Sou um crente, sou um crente nas capacidades que carregamos,
na força que transportamos e que conseguimos impor, na flexibilidade e no espírito de sacrifício que possuímos. Somos seres fascinantes, se nos focar-mos
em nós, nos nossos objectivos, sem deixar-mos que algo interfira, o resultado é
a obtenção do delineado. Tenta, falha, tenta de novo, se falhares, muda a
estratégia, puxa o gatilho e tenta de novo, esquiva, salta, defende, ataca e atinge
com fair-play.
Já me abalei várias vezes, umas vezes por força dos meus
actos, outras tantas por força dos meus actos, apesar de, nessas ultimas outras
tantas que referi, a olho nu, facilmente poder atribuir o peso das minhas mágoas
a terceiros. Não, eu prefiro assumir, prefiro exigir mudança a mim, pois somos
nós próprios os capacitados de criar a nossa realidade, pensando-a, dizendo-a e
agindo em concordância. É mais fácil exigir mudança a terceiros, mas sem
dúvida, mais compensador fazê las em nós. Adequar, inovar, instruir, assumir
mudanças ecológicas compostas por capacidades perceptivas mais aguçadas que nos
permitam esquivar de eventuais rasteiras sociais.
Hoje agradeço por tudo, mas, sobretudo por aquilo que, acho
que não tanto mereci ou recebi. São esses momentos, os pseudo julgamentos que
faço de mim próprio, que ao longo destes anos deram chance para o que sou hoje.
Metade de emoção, metade de racionalização, um contrabalançar obtido por
equilíbrio empírico . Foi por provar o amargo, que escorreguei e descobri o
doce e logo a seguir o amargo novamente. Aprendi, o doce somos nós.
Existem pessoas que passam nas nossas vidas, que nos levam e
deixam um pedaço. Existem pessoas que nos conseguem reensinar aquilo que
deixámos de saber sentir. Existem pessoas que vamos sempre lembrar com um
sorriso por mais que doa.
Um obrigado, hoje sou mais e neste ano, muito graças a ti.
Não somos, somos todos, união na perfeição daquilo que
perfaz,