segunda-feira, 27 de maio de 2013



Faz mais de um ano que não escrevo, e mais outro que por aqui ando, no jardim à beira mal plantado.

Uma espécie de resumo, de apanhado, do denso, doce e agudo capítulo que foi este último.
Muitos dias, muitas sensações, muitos estados, cresci, evoluí, sou mais eu.

Um dia que não é dia, não se sente, não se sorri, a brisa não toca e o calor não trespassa os corpos. Existem momentos que são prefixos do tempo, ocasionais mas, suficientemente doces ou agudos para serem marcantes.

Momentos doces, momentos comuns a criança, que escasseiam com o galopar da linha que evoluí e nos envelhece, momentos doces, em que o simples é elaborado o suficiente para ser eterno, tão simples que projectam sofisticação, que preenchem, que nos alucinam.

Momentos agudos, são momentos pouco desejados, fazem-nos sentir revoltados e muitas vezes esterilizados, reticentes da própria condição humana.

Ambos são especiarias que acrescentam à vida terrena o condimento necessário para que, degustemos a evolução da condição pessoal, da descoberta do “eu” mais profundo, da alma. Somos seres marcantes, para lá de matéria, somos pontos de luz, com capacidade de mudar o momento, uma vez, duas vezes, três vezes, quatro vezes, tantas, que juntas, podem mesmo mudar o mundo. Somos seres criadores da realidade que nos rodeia e, cada experiência, cada momento, marca exclusivamente quem somos, cabe-nos a nós optar pela quantidade de excelência que pretendemos disponibilizar em cada acto.

Olho em redor e é com tristeza que compreendo, compreendo perfeitamente a sociedade e cada um em particular, que se encontra envolto, doente, com patologia de “pilo-automático”. Levando-nos muitas vezes a cometer um salto neurológico sinuoso no processo perceptivo, atalhando o campo do córtex pré-frontal, directamente para um estado emocional governado pela vontade de saciar as emoções, sem que as auscultemos.
Somos constantemente bombardeados por azafamas sociais bilaterais, que representam labirintos de quotidianos formais e informais, repletos de armadilhas que se confundem ou difundem em forma de gargantilhas, diga-se, gravatas. Pessoas aperaltadas e tão pouco aparentam o que lhes apoquenta. A falta, o estrangulamento, a ausência de alento, a dificuldade de colocar na mesa o sustento.
Tal é o frenesim, tal é o stress acumulado pelas situações macro e micros, inevitavelmente intrínsecas ao padrão de vida cosmopolita, que nós próprios criámos e que nos castra.

A consciência a ciência, de auscultar aquilo que realmente somos, para assim, agir em conformidade, está em quarentena. A capacidade e o discernimento de escutar aquela pequena voz, aquela que, nos sussurra ao ouvido de mão dada ao peito, aquela que diz quem somos. É difícil, compreendo e vivo isso, às vezes mais do que desejo. Mas, tento, tento sempre, tento e empenho sempre mais que ontem e menos que amanhã, colocar em prática aquilo que eu chamo de, “parar o tempo”. Parar o tempo é um poder nosso, um poder de elevação pessoal, é mágico, uso-o, ainda não tanto quanto usarei, mas uso e divulgo-o. Para que o usem, explico-o da melhor forma que sei, pois a sociedade necessita de enormes dosagens do princípio activo, consciencialização. 

Não se vivem dias fáceis, é um facto, a falta de dinheiro para quem habita no epicentro da sociedade, é uma lacuna indissociável de uma qualidade de vida aceitável. Não é altruísta querer-se muito, não é egoísmo, não, é uma necessidade, os padrões que criámos para acesso a bens básicos é que estão elevados. Fazem sentir-nos frustração, que é marcada pela dificuldade em alcançar o estereótipo que nos foi cravado a ferros em criança, e que hoje, ainda tem marcas. Tudo isto dificulta a consciencialização, é mais a preocupação pela sobrevivência, que propriamente a de dar importância ao desenvolvimento da excelência pessoal. O País está um local diferente, os que cá ficam e que têm vontade de lutar, de fazer por si, aqueles que realmente hipotecam o seu tempo nas horas extras, com a convicção que é assim que o sucesso se constrói. Esses, à semelhança dos que se vão, encontram toda uma nova dificuldade a cada dia que passa, com a condicionante de ainda, assistirem de perto à deterioração do seu País e à volatilidade do seu trajecto. O País que os viu crescer e que lhes prometeu oportunidades, que os fez acreditar num conjunto de pressupostos, que se cumpridos, seríamos capazes de atingir uma qualidade de vida simpática. Hoje, nega-lhes isso mesmo. É necessária uma mudança, é necessária uma reprogramação para assegurar a manutenção da sanidade mental. O que era para ser, não é, e o que é, irá certamente deixar de ser.

Sou um crente, sou um crente nas capacidades que carregamos, na força que transportamos e que conseguimos impor, na flexibilidade e no espírito de sacrifício que possuímos. Somos seres fascinantes, se nos focar-mos em nós, nos nossos objectivos, sem deixar-mos que algo interfira, o resultado é a obtenção do delineado. Tenta, falha, tenta de novo, se falhares, muda a estratégia, puxa o gatilho e tenta de novo, esquiva, salta, defende, ataca e atinge com fair-play. 
Já me abalei várias vezes, umas vezes por força dos meus actos, outras tantas por força dos meus actos, apesar de, nessas ultimas outras tantas que referi, a olho nu, facilmente poder atribuir o peso das minhas mágoas a terceiros. Não, eu prefiro assumir, prefiro exigir mudança a mim, pois somos nós próprios os capacitados de criar a nossa realidade, pensando-a, dizendo-a e agindo em concordância. É mais fácil exigir mudança a terceiros, mas sem dúvida, mais compensador fazê las em nós. Adequar, inovar, instruir, assumir mudanças ecológicas compostas por capacidades perceptivas mais aguçadas que nos permitam esquivar de eventuais rasteiras sociais.

Hoje agradeço por tudo, mas, sobretudo por aquilo que, acho que não tanto mereci ou recebi. São esses momentos, os pseudo julgamentos que faço de mim próprio, que ao longo destes anos deram chance para o que sou hoje. Metade de emoção, metade de racionalização, um contrabalançar obtido por equilíbrio empírico . Foi por provar o amargo, que escorreguei e descobri o doce e logo a seguir o amargo novamente. Aprendi, o doce somos nós.

Existem pessoas que passam nas nossas vidas, que nos levam e deixam um pedaço. Existem pessoas que nos conseguem reensinar aquilo que deixámos de saber sentir. Existem pessoas que vamos sempre lembrar com um sorriso por mais que doa.

Um obrigado, hoje sou mais e neste ano, muito graças a ti.

Não somos, somos todos, união na perfeição daquilo que perfaz,                  

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