segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Nos últimos meses observo-te e vejo o quanto diferente estás, a luta pela sobrevivência é praticamente diária, traduzindo a minha angustia de saber que te vou perder. Juntamente contigo irá uma parte de mim e só agora dou conta do sofrimento que me vai ser infligido, quando realmente já sabia à partida qual seria o desfecho. Relembro perfeitamente o dia em que chegaste, dia 3 de Agosto do ano 2000, eu era um miúdo controverso e tu vinhas envolto num laçarote de seda encarnado, tal e qual como nos filmes.
Sei que nas primeiras duas noites desci silenciosamente do meu quarto e não te deixei dormir sozinho, “choravas” continuamente e eu não suportava, não por me enraivecer, mas por teres despertado um sentimento alheio aos que estava acostumado, que me fazia sentir bem e que queria partilhar contigo.
Foi desde ai que começou, ligação forte de sentido crescente com um expoente que marcou. Eras jovem, potente, vistoso, protector e portador de um amor e lealdade incondicional. Desabafámos e lamentámos a vida juntos, foste o receptor dos meus abraços mais sentidos, dos meus suspiros mais profundos, sem nunca rejeitares nenhum. Exactamente no dia 3 de Agosto de 2011, Custa-me olhar para ti, vejo-te no fio da navalha, o teu olhar é intenso e eu entendo-o sem necessitar de uma explicação, deito-te no meu colo como tantas outras vezes o fiz, encosto a minha cara na tua, sinto o teu bafo morno e frágil a esvanecer gradualmente, enquanto te injectam a poção que te irá oferecer o descanso, e eu, esforçando-me para conter a lágrima que teima em cair, que tu lambes em jeito de despedida, agradeço-te em pensamento e quero que a tua, minha, nossa recordação seja selada com o silêncio compreendido de tudo o que de bom passámos juntos.

Até um dia.
Marcaste uma fase.

Obrigado.

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