Nos últimos meses observo-te e vejo o quanto diferente estás, a luta pela sobrevivência é praticamente diária, traduzindo a minha angustia de saber que te vou perder. Juntamente contigo irá uma parte de mim e só agora dou conta do sofrimento que me vai ser infligido, quando realmente já sabia à partida qual seria o desfecho. Relembro perfeitamente o dia em que chegaste , dia 3 de Agosto do ano 2000, eu era um miúdo controverso e tu vinhas envolto num laçarote de seda encarnado, tal e qual como nos filmes.
Sei que nas primeiras duas noite s desci silenciosamente do meu quarto e não te deixei dormir sozinho, “choravas” continuamente e eu não suportava, não por me enraivecer, mas por te res despertado um sentimento alheio aos que estava acostumado, que me fazia sentir bem e que queria partilhar contigo.
Foi desde ai que começou, ligação forte de sentido crescente com um expoente que marcou. Eras jovem, pote nte , vistoso, prote ctor e portador de um amor e lealdade incondicional. Desabafámos e lamentámos a vida juntos, foste o receptor dos meus abraços mais sentidos, dos meus suspiros mais profundos, sem nunca rejeitares nenhum. Exactamente no dia 3 de Agosto de 2011, Custa-me olhar para ti, vejo-te no fio da navalha, o te u olhar é inte nso e eu ente ndo-o sem necessitar de uma explicação, deito-te no meu colo como tantas outras vezes o fiz, encosto a minha cara na tua, sinto o te u bafo morno e frágil a esvanecer gradualmente, enquanto te injectam a poção que te irá oferecer o descanso, e eu, esforçando-me para conte r a lágrima que te ima em cair, que tu lambes em jeito de despedida, agradeço-te em pensamento e quero que a tua, minha, nossa recordação seja selada com o silêncio compreendido de tudo o que de bom passámos juntos.
Até um dia.
Marcaste uma fase.
Obrigado.
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